Da janela do meu quarto eu via muitas coisas acontecerem. Nossa família não era de passear muito. Aos sábados a minha irmã e eu brincávamos com as vizinhas do prédio e aos domingos visitávamos os avós. Adorava muito tudo isso, porém eu sempre fui uma criança inquieta e queria mais.
Então, no carnaval, da janela do meu quarto, eu via as pessoas fantasiadas, crianças e adultos, de ônibus ou a pé, irem pular ao som do samba até amanhecer. Aiiii, como eu queria ir também. Eu pedia ao meu pai para me levar a uma festa de carnaval, implorava, mas ele não atendia a esse pedido.


Minha irmã, diferente de mim, não era fã de fantasias e nem de música alta. Então, me lembro de brincar sozinha e na minha imaginação eu estava lá, na Sapucaí ou num bloco de rua, dançando e me divertindo. Para tornar a brincadeira mais real, colocava as fantasias das apresentações do ballet ou improvisava. Ah, como era bom….


Nesse final de semana realizei o meu sonho de 30 anos atrás. Já havia pulado carnaval depois de adulta, mas nunca teve o mesmo sabor daquelas festas que eu fazia na minha imaginação, sozinha no meu quarto. Foi no Bloco da Velha, carnaval de rua da cidade em que moro, que conclui minha fantasia. Agora, com 36 anos, saí da minha janela e me tornei uma daquelas pessoas que levam seus filhos à maior festa brasileira. Foi no sorriso de alegria da Lis (2 anos) e da Louise (4 anos) que eu me realizei.


Às vezes paro para pensar, quantas coisas que fazemos pelos filhos e que na verdade estamos fazendo para nós mesmos? Nada tem de mal ir pular carnaval com as crianças com um desejo maior do que o delas. Talvez a Louise e a Lis preferissem estar brincando com as vizinhas ou na casa das avós, mas eu precisava levar elas no carnaval de rua, queria muito me ver nos olhos delas. Enfim, eu revivi e realizei meu sonho através das meninas.

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