Quando eu tinha oito anos li uma história em quadrinhos, provavelmente da Mônica e do Cebolinha, onde as crianças aproveitavam um dia lindo de sol para soltar pipa. Fiquei encantada com a ideia de me divertir assim como àqueles personagens e fui correndo para minha mãe e pedi a ela uma pipa também. Como naquela época, década de 80, não era fácil de encontrar uma pronta, decidimos confeccionar juntas. E ela me prometeu, que no primeiro domingo de sol que fizesse meu pai e eu iriamos fazer a pipa voar, já que minha mãe não tinha habilidade para isso.

Ai que delícia. Só de imaginar eu correndo ao ar livre ao lado do meu pai, controlando com ele aquele barbante, vendo a pipa subir ao alto, até chegar às nuvens, me enchia de felicidade e ansiedade também. Lembro-me da minha mãe e eu criando juntas a Pipa. Era amarela, de papel seda, com varetas na diagonal e cheirava a cola branca.

Como meu pai viajava muito a trabalho, passando até 15 dias longe de casa, tive que esperar até o final de semana para mostrar a ele a nossa obra de arte. Lembro-me vagamente da reação dele a ver a Pipa. Tenho a impressão que sorriu e prometeu que me levaria empiná-la em algum final de semana.

E lá eu fiquei esperando por dias, semanas e meses. Não sei ao certo quanto tempo foi, provavelmente mais de um ano. E nem ao certo quantas vezes eu pedi, com certeza mais de 100. Um dia eu cansei e por conta própria, sozinha, tentei empinar a pipa, em vão. Não consegui, nem um pouquinho, nem uma rasante, nadica mesmo.

Claro que tenho boas recordações ao lado do meu pai. Como uma vez que minha mãe foi fazer a prova de autoescola e ele fritou bifes deliciosos para a minha irmã e eu, ou quando me levava com ele até o “fundão” na praia. Mas confesso que foram poucos esses momentos. Quantas coisas podíamos ter feitos juntos enquanto ele era mais jovem. Hoje ele está com quase 70 anos e eu com 36 e a nossa relação é boa, mas de adultos. Cresci e sou uma outra filha e talvez ele também um outro pai.

A reflexão que eu faço com essa história é o quanto a presença do pai, padrasto, vô, tio, faz na vida de uma criança. Por mais dias soltando pipa, pegando jacaré na praia, andando de bicicleta e tomando um sorvete tamanho família ao lado deles. Os filhos precisam e os pais mais ainda.

Chris Finger: jornalista, mãe de Louise (4 anos) e Lis (2 anos)
OBS: Desenho feito por mim quando eu tinha oito anos.

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