Após os nove meses de gestação, um trabalho de parto cansativo ou uma cesárea onde envolve anestesia e cortes, e lhe dada à oportunidade de pegar o seu bem maior nos braços. Isso quando o bebê e a mãe passam bem.

Como a Louise (4 anos) nasceu prematura, o meu primeiro encontro para amamentá-la foi um pouco diferente. Mas com a Lis (2 anos) foi como eu sonhava …. Quer dizer, mais ou menos…

Ainda na sala da recuperação, as enfermeiras a levaram para mim. Ficamos juntinhas, deitadas naquelas camas de hospitais com as grades ao lado. Ainda anestesiada, sem conseguir me movimentar muito bem, buscava acalmá-la (ela nasceu chorando e permaneceu assim por alguns meses) e as enfermeiras incentivaram a dar de mama.

Como fazia poucos meses que eu havia parado de amamentar a Louise, meu seio ainda estava preparado para receber aquela pequena e faminta boquinha. Fomos nos adaptando, mas sentia falta de ter alguém da família ali comigo, meu marido de preferência. Gostaria muito que permitissem a entrada dele na sala de recuperação, mas aqui onde moramos (Caxias do Sul) não é possível.

Por uns 20 dias amamentei a Lis fazendo compressa de gelo junto. Diferentemente do que aconteceu com a Louise, que foi bem tranquilo. Meu seio doía muito, dava umas fisgadas quando ela sugava. E como ela nasceu em junho, no inverno, eu não conseguia fazer banho de luz.

Mesmo com muita dor, eu consegui amamentar. Acho que o fato dela ser minha segunda filha me ajudou e tranquilizou. Passado os 20 primeiros dias, as coisas foram melhorando e aquele momento se tornou cada vez menos sofrido e mais prazeroso para nós duas.

Na época e até hoje procuro ler muito sobre o assunto. As revistas, sites, blogs trazem matérias sobre a importância do aleitamento materno, exclusivo até os 6 meses. Às vezes sentenciando aquela mãe que por um motivou ou outro não consegue amamentar seu bebê. O olhar da sociedade com essas mulheres ainda hoje é preconceituoso. Muitos sãos os relatos de mães, que além de se acharem incapazes por não conseguir amamentar, sofrem com a pressão da família, amigos e até desconhecidos por não darem de mamar.

Vamos conferir o relato de algumas mães que não amamentaram seus filhos. Veja o que elas têm a dizer sobre isso! 

Cristiane Pierosan Brandão, 36 anos, mãe de Maria Beatriz (Mabi) 4 anos

Tive a Maria Beatriz, carinhosamente chamada de Mabi, por cesárea. Ficamos juntas na recuperação, embora eu não lembre muito bem desse período e fomos para o quarto somente às 3h da manhã. Como toda “nova mãe” fiquei admirando ela praticamente a noite toda e quase não dormi e, pela manhã, começamos a receber as visitas. Não lembro exatamente o horário em que tentei amamentar pela primeira vez, apenas lembro que eu não consegui. Chamamos uma enfermeira e eu falei da minha dificuldade, infelizmente ela não me deu muita atenção, e foi verificar se a pediatra tinha deixado autorizado complemento, caso necessário. Neste mesmo dia ainda tentei mais 3 ou 4 vezes e todas sem sucesso, a Mabi não conseguia “agarrar” o seio, pois não tinha bico.

No dia seguinte, recebi a visita de uma prima minha, pediatra, que me deu uma atenção mais cuidadosa. Ela, junto
com uma enfermeira, fizeram de uma seringa cortada um instrumento para “puxar” o bico. Fizemos o movimento de puxar o bico algumas vezes e, em seguida, colocamos a Mabi para sugar. Por muito pouco tempo ela conseguiu, mas como havia sido cesárea, ainda não tinha leite e, novamente, foi dado complemento para ela.

No dia seguinte, tivemos alta. Pensei que seria mais fácil, pelo simples fato de estar em casa, mas não. Eu tive reação à anestesia e meu pescoço paralisava e eu tinha fortes tonturas e dores de cabeça quando estava sentada, o que acabou dificultando ainda mais as tentativas. Foi muito tranquilo pra eu decidir dar complemento, uma vez que eu, enquanto recém nascida, também não fui amamentada. Fiz algumas tentativas de tirar o leite e adicionar na mamadeira, mas percebi que ela estava tendo muitas cólicas. Apesar de, pra eu ter sido tranquilo, para muitas pessoas não foi. Sofri muita pressão, principalmente, do meu pai por não estar amamentando… Que ela não ia crescer direito, e não ia ter anticorpos e várias outras coisas…

Para ser sincera, não lembro a reação das pediatra. Mas, em uma consulta com a obstetra quando ela viu falou surpresa: mamadeira??? E meu pai, que estava junto, mais do que rápido respondeu: é, não teve paciência para insistir na amamentação. E eu, super calma: é Dra. meu seio não fez bico, já tentei várias vezes e não adianta, mas não tem problema, ela tá sendo alimentada do mesmo jeito!!!! Não sei por que, ninguém falou mais nada…

Apesar de eu não ter amamentado, fazia questão de sempre dar a mamadeira, pouquíssimas vezes deixei outra pessoa fazer isso. Quando íamos passear era um trabalhão. Comprei uma garrafa térmica pequena e um pote com três divisórias onde eu colocava a dose exata do complemento e lá íamos nós! Em locais públicos, ninguém nunca me olhou com estranheza, ou eu que não olhava. E isso me tranquilizava, pois eu já tinha me cobrado demais por não ter dado certo.

Um conselho para quem tá passando por essa situação? Relaxa. Nem tudo na vida é como a gente gostaria que fosse, e não é o simples fato de não ter amamentado que vai influenciar no vinculo mãe é bebê. Muita calma e boa sorte, tudo dá certo!

Daniela Storchi, 32 anos, mãe de Yasmin 3 anos

A Yasmin nasceu na manhã de um sábado, acordei para ir ao banheiro e minha bolsa rompeu, já estava com 38 semanas e três dias, optei por fazer cesárea e correu tudo muito bem. No domingo já fomos para casa, meu leite não havia descido, tinha apenas o colostro. Ela não pegava muito bem no seio, mas conforme a orientação médica a colocava no peito e incentivava. Porém meu leite continuava a não descer e tive que dar o complemento pela orientação da pediatra.

Na quinta-feira seguinte amanheci com muita dor nos seios e por fim o leite havia chegado, mas a Yasmin já estava tomando mamadeira e não queria pegar o seio por nada. Tinha muito leite e sempre ao tentar amamentá-la ela chorava muito, desesperadamente e eu a acabava molhando toda, pois meu leite descia muito. Ela pegou bem no seio apenas uma vez e depois nunca mais, chorava muito e eu inexperiente não entendia o porquê.

A pediatra na época não me ajudou em nada, meu obstetra pediu que eu insistisse e não desistisse, mas não teve jeito. Passei a ter muita dor e o leite a “empedrar”. Foi quando comecei a tirar com a máquina e colocar na mamadeira para ela tomar. Consegui “amamentar” ela desta forma até os três meses.

O mais difícil neste momento é enfrentar as pessoas, os familiares. Pois não amamentar parece algo de outro mundo e por muitas vezes ouvimos coisas que chateiam e magoam muito, aparecem muitas comparações e muitas teorias e isso pra mim foi muito chato.

No inicio me sentia a pior mãe do mundo… Como não estava amamentando minha filha? Não aceitava, mas estava entrando em paranoia, quando conversei muito com meu obstetra e ele me disse que não era o fim do mundo e que minha filha iria se criar e sobreviveria com certeza, que não era para ligar para os outros, que podemos dar amor e ter grandes laços também com a mamadeira em mãos.

Minha dica para as mamães é que não se culpem, e não escutem o que as pessoas falam e PRINCIPAL nunca julguem uma outra mãe. E saibam que realmente laços de afeto não são criados apenas na amamentação, até hoje eu e minha filha somos muito amigas e estamos sempre grudadinhas.

 

Márcia Dorigatti Rodrigues, 37 anos, mãe de Luisa 6 meses e Gabriel 7 anos

Primeiro filho (teve dificuldade de amamentar): Quando o Gabriel nasceu, acreditava que era só colocá-lo no peito que sairia mamando, mas não foi bem assim. Primeiro, o ginecologista não me ajudou a preparar o seio para este momento. Depois, ainda na maternidade, a pediatra me disse que ele tinha que pegar o seio, senão eu não sairia do hospital. E tive que fazer isso, enquanto um parente estava no quarto. Foi traumático. Quase morri de vergonha, sem contar o medo de ter que ficar lá, já que não via a hora de vir para casa. Consegui amamentar 45 dias.

Eu chorava junto com ele. O Gabriel ficava duas horas no seio e ainda tinha fome. Rachou muito. Eu tinha febre. Quase entrei em depressão. Passava tudo o que me ensinavam, como mamão, por exemplo. Comprei um tipo de conchinha de silicone, que ele mesmo tirava. Foi então que pensei, eu não vou deixar o guri com fome e comecei a dar mamadeira. Daí em diante, passamos bem. Empedrou muito meu seio, a minha cunhada que me ajudou a voltar ao normal.

Apesar de ler bastante sobre o assunto, eu não sabia que isso acontecia do nada, apenas por ficar sem dar de mama. Esse foi um dos motivos pela qual demorei seis anos para ter a coragem de engravidar novamente. Medo! Mas mesmo assim, sempre achei que ter apenas um filho era pouco. Então não pensamos muito e deixamos vim, a hora que fosse estaria bom.

Claro que me senti frustrada. Não era só o alimento, mas um carinho. Aquele olhar dele ao estar conectado ao meu corpo, não tinha explicação. As pessoas olhavam e diziam: mas tu não conseguiu amamentar? Como se fosse fácil.

Segundo filho (teve orientação e amamentou): Descobrimos a gravidez da Luisa na praia. Eu costumo dizer que ‘fomos em três e voltamos em quatro’. Escolhi uma médica mulher, exatamente para conhecer o corpo da mulher e saber do que eu falava. Ela me ajudou sempre, até hoje, eu devo a ela de estar amamentando. Mas quando dizem que uma criança nunca é igual a outra, é verdade. Diferente do Gabi que não pegava o peito lá no hospital, a Luisa já nasceu sabendo. Quando a trouxeram na minha cama, já saiu mamando.

Se começa a doer, eu já passo um remedinho e comprei as ‘conchinhas’. Aquilo ali é tudo! Já que apenas de o bico encostar na roupa, já parece que está em carne viva. As ‘conchinhas’ ajudam a respirar e não rachar, além de se vazar o leito, o líquido fica ali e não suja a roupa. Também troquei a pediatra. Como da primeira vez foi traumático, eu precisava de uma especialista que me respondesse as dúvidas, quase que na hora que eu precisasse.

Mas como estou conseguindo amamentar, agora que ela está começando com água e frutinhas. Mamadeira, só quando preciso deixar ela com outra pessoa. Volto a trabalhar da licença-maternidade no dia 8 de março, então vou ver se consigo continuar amamentando pela manhã e à noite. Como moro longe do meu trabalho, não vou conseguir amamentar em outros horários. Já comprei a maquininha para tentar tirar o leite, já tentei, mas não sai nada. Vou continuar tentando.

Desta vez, estou triste de ter que começar a desmamar porque vejo que ela gosta muito da ‘tetinha’, como sempre falo para ela.

Conselho para outras mães: Você tem que pensar em você e no bebê. As duas coisas precisam andar juntas, se algo estiver errado ou fazendo mal para uma das partes, não está certo. Ele não vai morrer de fome, existem outras alternativas, se mesmo não der. Claro, a gente tem que tentar até o último momento. Amamentar é saúde para a mãe e o filho. Mas como no meu caso, que eu chorava junto com a criança, sangrava e não tinha jeito de melhorar, mudei e não me arrependo. Não vá atrás do que as pessoas te dizem. A natureza se impõe e você tem que ir por você mesma.

Maiores dificuldades encontradas na amamentação

Amamentar, na maioria das vezes, não é fácil.  Apesar de muitas pessoas acharem que é algo instintivo, algumas mulheres precisam de auxílio para obter sucesso.  As maiores dificuldades da amamentação acontecem no início, quando aquela mãe ainda insegura e cheia de dúvidas, absorve todos os palpites que recebe.

A pega incorreta é a maior dificuldade da amamentação. Ocorre quando o bebê coloca somente o mamilo da mãe dentro da boca para sugar. A mãe sente dor, a amamentação deixa de ser um momento prazeroso, o bebê não consegue receber uma quantidade adequada de leite, a mãe acha que não está produzindo o suficiente e acaba entrando com um complemento.

As rachaduras/fissuras também são muito comuns e atrapalham a amamentação pois nos primeiros dias os mamilos estão muito sensíveis e se tiverem com fissuras a mulher pode sentir dor ao amamentar.

Conversamos com a enfermeira obstetra, Juliana Hasstenteufel Dorigatti, da Gesta Baby Assistência Maternal, que entre muitos serviços oferece consultoria a domicílio para ajudar as mamães na amamentação. Confira a entrevista que o blog aMANHÊsendo fez com a Juliana.

  • O que pode dificultar na hora de amamentar

Mamilos planos e invertidos nem sempre são um problemas, mas alguns bebês demoram um pouco mais para conseguir realizar a pega correta. Bebês sonolentos ,  prematuros, sindrômicos e os que nascem com  lábio leporino e/ou fenda palatina e freio lingual curto, precisam de uma atenção especial e muito estímulo.

O ingurgitamento mamário, conhecido popularmente como “mama empedrada” acontece quando o leite é produzido em uma quantidade superior à demanda do bebê e acaba ficando acumulado, deixando a mama cheia, tensa e dolorida.

  • O que é possível solucionar

A pega correta se faz quando o bebê abocanha toda aréola, e não apenas o mamilo. Assim ele conseguirá sugar uma quantidade adequada e a mãe não sentirá dor.

Para melhorar as rachaduras a mulher pode utilizar o próprio leite, que ajudará no processo de cicatrização por ser um “hidratante natural”. Alguns obstetras indicam a lanolina ou o óleo de girassol para auxiliar nesse processo. Outra atitude que auxilia é expor a mama ao sol por aproximadamente 15 minutos antes das 10h ou após as 16h e usar as conchas que evitarão o atrito do mamilo com o sutiã.

Em relação ao ingurgitamento, mais importante do que a mama, é a aréola que não pode estar tensa para o bebê conseguir realizar a pega corretamente. Caso isso aconteça, é necessário realizar uma massagem e ordenha manual antes de oferecer o seio para o bebê.

  • Quando procurar ajuda

Procurar ajuda sempre que tiver alguma dúvida ou quando não estiver se sentindo segura para enfrentar esses primeiros dias e semanas sem ajuda profissional. A dica é a aproveitar os dias de internação hospitalar, quando o bebê nasce, para tirar as dúvidas em relação à amamentação.  Nos cursos de gestantes o tema é abordado tanto na teoria como na prática e as mulheres normalmente se sentem mais seguras portando essas informações. Existem também empresas que prestam consultoria de amamentação à domicílio. O segredo da amamentação é paciência, persistência e auxílio de profissionais capacitados.

  • Como pessoas próximas podem ajudar

Não cobrando, não fazendo comparações e evitando dar palpites. Permitindo que a mulher se sinta amada e apoiada nas suas decisões para evitar que a amamentação vire uma frustração.

  • Como as mães que não conseguem amamentar podem manter o vínculo com o bebê

Se conscientizando que o amor maternal está acima da amamentação. Existem mães que amamentam e mães que não amamentas assim como existem mães altas e mães baixas, mães mais gordinhas e mãe mais magrinhas… todas MÃES! Uma mamadeira dada com amor, colo, olho no olho, é muito melhor que um peito dado com desconforto, dor, insegurança e estresse. Temos que nos lembrar que os bebês sentem tudo e com certeza sentirão o carinho e amor que depositamos ao alimentá-los.

 

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